A morte de um mergulhador experiente na madrugada de hoje (ontem à noite no horário de Brasília) evidenciou os riscos de resgatar doze meninos e seu técnico de futebol, presos em uma caverna no norte da Tailândia. A morte de hoje somada ao retorno das chuvas e à escassez de oxigênio dentro da caverna tornam o resgate cada vez mais dramático e urgente.

© Reuters
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Samarn Poonan, de 38 anos, era mergulhador treinado e ex-integrante da Marinha tailandesa. Ele se ofereceu como voluntário para ajudar no resgate dos meninos que estão presos na caverna há quase duas semanas. Durante a madrugada, ele e mais um mergulhador levaram suprimentos para os adolescentes, principalmente cilindros de oxigênio, que está diminuindo no ar do interior da caverna e começa a causar preocupação. No caminho de volta, ele perdeu a consciência e, embora tenha sido socorrido por um companheiro, não resistiu. Ainda é necessário realizar autópsia para determinar a causa exata da morte.

O percurso que os mergulhadores fazem para chegar ao time de futebol é longo e complicado. Ao todo, a equipe tem demorado cerca de 6 horas para chegar até os meninos e 5 horas –nadando em favor da correnteza– para retornar à entrada da caverna. Nem todo o caminho é feito mergulhando, sendo possível caminhar em algumas partes da caverna. No entanto, dependendo da profundidade atingida e do esforço que os mergulhadores fazem durante o percurso, um cilindro de ar é suficiente para cerca de 30 minutos embaixo d’água. Isso significa que eles precisam carregar uma quantidade grande de cilindros para completar o percurso, explica Claudio Santos, instrutor de mergulho da escola Amigos do Joe, de São Paulo.

O instrutor explica que a principal causa de morte em mergulho de cavernas –um dos tipos mais complexos de submersão– é o desespero. “O mergulho em qualquer região com teto é perigoso e exige um psicológico controlado. O teto baixo pode causar desespero em algumas pessoas e o desespero leva a uma respiração ofegante e, por consequência, ao alto consumo de ar”. Esta poderia ter causado uma ausência de ar no cilindro de Poonan no fim do percurso e a consequente perda de consciência do ex-militar.

Mergulhos em caverna sempre exigem a presença de um cabo-guia para auxiliar no retorno ao local de partida. “Esse mergulhador pode ter perdido acesso ao cabo e se desesperado ou até ter acreditado que já estava próximo da saída, o que o teria levado a intensificar a respiração e assim esgotar o ar”, sugere o instrutor. “Quem faz mergulho em caverna precisa ter uma margem de segurança de quanto tempo vai levar, onde está e como será o percurso. Perder isso é um risco”. Além disso, a visibilidade também é um obstáculo. Dentro de cavernas ela costuma ser de 20 a 30 centímetros (em alto mar não agitado e áreas de corais, visibilidade de 20 metros não são incomuns), no entanto, a água da caverna de Tham Luang é enlameada, prejudicando a visão.

Retirar os meninos e o técnico por meio do mergulho é a principal alternativa de resgate, mas a morte de Poonan põe em xeque a viabilidade do método. Outra possibilidade seria deixá-los em segurança na caverna até outubro, quando termina a época das chuvas de monções. No entanto, a previsão do retorno das tempestades no próximo domingo e a queda de oxigênio no interior da caverna preocupa a equipe, pois o time pode não conseguir sobreviver por tanto tempo no local.

Outro problema é a saúde física e mental dos meninos e do técnico também: uma avaliação médica dos garotos –com idades entre 11 a 16 anos– e do treinador, de 25 anos, concluiu que o grupo está debilitado fisicamente pelos dias que ficaram sem se alimentar. Segundo o relatório, ao menos dois dos meninos e o técnico sofrem de exaustão. Além disso, nenhum deles sabe nadar.

arte-caverna-transversal: Corte transversal de cavernas na Tailândia onde um time de futebol está preso.

© Fonte: VEJA Corte transversal de cavernas na Tailândia