Ele é o primeiro latino-americano a ganhar o prêmio, criado em 1972, e vai receber 1,1 milhão de libras esterlinas, o equivalente a R$ 5,5 milhões. ‘A ciência não mata Deus’, diz.
Washington, Estados Unidos – O prêmio Templeton, que recompensa a cada ano uma personalidade que explora “a dimensão espiritual da vida”, foi concedido nesta terça-feira (19/3) ao físico teórico brasileiro Marcelo Gleiser, que se esforça para demonstrar que ciência e religião não são inimigas.
“O ateísmo é inconsistente com o método científico”, afirmou Gleiser à AFP na segunda-feira no Dartmouth College da Universidade de New Hampshire, onde é professor desde 1991. “O ateísmo é uma crença na não-crença. Então você nega categoricamente algo contra o qual você não tem provas”, acrescentou.”Mantenho a mente aberta, porque entendo que o conhecimento humano é limitado”, completa o cientista.
O prêmio Templeton é financiado pela fundação do falecido John Templeton, um americano presbiteriano que fez fortuna em Wall Street. Dotado com 1,1 milhão de libras esterlinas (quase 1,5 milhão de dólares, 50% a mais que o Nobel), já foi recebido desde 1973 por Desmond Tutu, o Dalai Lama, filósofos, outros astrofísicos, Alexander Solzhenitsyn, entre outros.
Com cinco livros em inglês e centenas de artigos em blogs e na imprensa dos Estados Unidos e do Brasil, Gleiser explica de que maneira ciência e religião estão direcionadas para responder perguntas muito similares sobre a origem do universo e da vida.
“A primeira coisa que você lê na Bíblia é uma história da criação”, afirma. Judeus, cristãos, muçulmanos: independentemente da religião, “todos querem saber como o mundo surgiu”.
Esta curiosidade fundamental, científica ou religiosa, leva, sem dúvida, a respostas diferentes. O método científico é feito de hipóteses refutáveis, o que não acontece com as religiões.
“A ciência pode dar respostas a certas questões, até um certo ponto”. O que são o tempo, a matéria, a energia? As respostas científicas são válidas apenas em um âmbito teórico. “Este é um problema conhecido na filosofia por muito tempo, chamado de problema de primeira causa: ficamos presos”, afirma Gleiser, pai de cinco filhos. “Devemos ter a humildade para aceitar que estamos cercados de mistério”.
“Arrogância” científica
Gleiser já escreveu sobre mudança climática, Einstein, furacões, buracos negros, a consciência… Seu credo é rastrear os vínculos entre a ciência e as humanidades, incluindo a filosofia. O que ele pensa dos que acreditam que a Terra foi criada em sete dias?
“Eles consideram a ciência como o inimigo, porque têm um modo muito antiquado de pensar sobre ciência e religião, no qual todos os cientistas tentam matar Deus”, disse. “A ciência não mata Deus”, completa.
Gleiser lamenta que os “novos ateus” tenham ampliado a distância com a religião, especialmente o cientista britânico Richard Dawkins (que pediu a prisão do papa Bento XVI , ou o falecido jornalista Christopher Hitchens, que criticava a Madre Teresa (a primeira a receber o prêmio Templeton).