“A esperança não decepciona” (Rm 5,5).

Foto/Fonte: CNBB

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) encerrou sua 59ª assembleia-geral nesta 6ª feira (29.abr.2022) com um chamado em favor do “respeito aos resultados” das eleições de outubro. No documento “Mensagem ao Povo Brasileiro”, diz que a democracia ainda está em construção no Brasil e “não pode ser colocada em risco”.

“Tentativas de ruptura da ordem institucional, hoje propagadas abertamente, buscam colocar em xeque a lisura do processo eleitoral e a conquista irrevogável do voto”, afirma o texto. “Tumultuar o processo político, fomentar o caos e estimular ações autoritárias não são, em definitivo, projeto de interesse do povo brasileiro.”

A CNBB está reunida desde 2ª feira (25) por videoconferência. O texto foi assinado por dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da CNBB, dom Joel Portella Amado, secretário-geral da Conferência, dom Jaime Spengler, arcebispo de Poro Alegre (RS), e dom Mário Antônio da Silva, bispo de Roraima.

Os bispos reiteraram seu apoio às instituições da República. Em especial, àquelas envolvidas no processo eleitoral referência ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Mencionaram a “manipulação religiosa”, conduzida por políticos e religiosos, e a disseminação de fake news como as duas principais ameaças às eleições.

“Conclamamos toda a sociedade brasileira a participar das eleições e a votar com consciência e responsabilidade, escolhendo projetos representados por candidatos e candidatas comprometidos com a defesa integral da vida, defendendo-a em todas as suas etapas, desde a concepção até a morte natural. Que também não negligenciem os direitos humanos e sociais, e nossa casa comum onde a vida se desenvolve”

A CNBB reafirma no texto o reconhecimento da Igreja à separação e independência entre Estado e religião. Está vigente no Brasil desde a Proclamação da República, em 1889. Explica que a manipulação religiosa serve a um “projeto de poder sem afinidade com os valores do Evangelho de Jesus Cristo”.

Em sua avaliação, as fake news falseiam a realidade por meio da mentira e do ódio. Ao carregarem o “perigoso potencial de manipular as consciências, elas modificam a vontade popular, afrontam a democracia e viabilizam, fraudulentamente, projetos orquestrados de poder”.

Os bispos fazem um apelo, no texto, para que a Lei da Ficha Limpa seja cumprida ao longo do processo eleitoral. Trata-se da legislação impede a candidatura de pessoas condenadas pela Justiça. “Não existe alternativa no campo democrático fora da política com a ativa participação no processo eleitoral.”

No documento, os bispos católicos chamam a atenção para um cenário de “incertezas e radicalismos” nas eleições deste ano. Afirmam que a “lógica do confronto” ameaça o estado democrático de direito e suas instituições. “Transforma adversários em inimigos, desmonta conquistas e direitos consolidados, fomenta o ódio nas redes sociais, deteriora o tecido social e desvia o foco dos desafios fundamentais a serem enfrentados”, diz o texto.

O texto expressa a insatisfação da Igreja nas questões de meio ambiente, de direitos de trabalhadores, de respeito a comunidades indígenas e quilombolas, de flexibilização do uso de armas de fogo e de violência urbana e rural. Em sintonia com as orientações do papa Francisco, faz um chamado para que os interesses econômicos não se sobreponham a direitos conquistados por trabalhadores e pobres. Pede atenção para políticas de combate ao desemprego, de redução do trabalho informal e de melhoria da qualidade da educação –tema escolhido pela CNBB para a Campanha da Fraternidade da quaresma deste ano.

Pautas tradicionais da Igreja, como sua contrariedade à legalização do aborto e da eutanásia, foram reiteradas. Ao conclamar a sociedade a votar “com consciência e responsabilidade”, a CNBB sugeriu a escolha por candidatos comprometidos com a defesa integral da vida, desde a concepção até a morte natural.

O texto da Mensagem trouxe crítica aos que se afastaram da ciência durante a pandemia e lembrou as vítimas da covid-19. “A consciência lúcida da necessidade dos cuidados sanitários e da vacinação em massa venceu a negação de soluções apresentadas pela ciência”, afirma. “Contudo, não nos esquecemos da morte de mais de 660.000 pessoas e nos solidarizamos com as famílias que perderam seus entes queridos, trazendo ambas em nossas preces.”

Ao final do texto, os bispos convidam a todos, particularmente a juventude, “a deixarem-se guiar pela esperança e pelo desejo de uma sociedade justa e fraterna”.